Tendências e perspectivas para a área da mobilidade estiveram no centro do debate da reunião da Câmara Brasileira do Comércio de Peças e Acessórios para Veículos (CBCPave), realizada no dia 23 de novembro, na sede da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em Brasília.
Convidado a falar sobre o assunto, o engenheiro mecânico Heitor Chaves, do Grupo Mahle, participou da reunião de forma remota e afirmou o compromisso da empresa com a missão de aumentar a eficiência e a vida útil do motor e reduzir as emissões de gases poluentes. “O mercado automotivo caminha para uma economia não fóssil, com redução da emissão de carbono e uma crescente utilização de biocombustíveis e energia limpa. É importante reconhecer que cada região do mundo tem suas particularidades. No Brasil, por exemplo, temos alta disponibilidade de biocombustíveis, e isso indica que, em médio prazo, utilizaremos essa alternativa”, ressaltou.
De acordo com o engenheiro, a opção pela popularização do carro elétrico nem sempre é o caminho mais adequado, já que o ciclo completo de produção deste tipo de automóvel gera a emissão elevada de gás carbônico (CO2). “Quando comparamos o ciclo de vida completo de um veículo elétrico, desde a sua produção até a reciclagem, é constatado que se emitem 20 toneladas ou mais de CO2. Já um veículo que utilize biocombustível, recurso que o Brasil tem em abundância, a emissão é menor, considerando o ciclo total”, analisou o especialista.
Heitor afirmou também que, em 2022, no Brasil, o etanol representou apenas 30% do combustível utilizado por veículos de passeio e que, embora o índice tenha tendência de crescimento, é necessário um esforço mais amplo para acelerar esse processo. “O consumo de etanol no mercado automotivo traz um ciclo muito mais eficaz para o setor. A título de comparação, o setor de pastagem utiliza 195 milhões de hectares no Brasil. Com 4% dessa área destinada à produção de etanol, seria possível abastecer a totalidade da frota de veículos leves no País”, concluiu.
Inspeção Técnica Veicular (ITV)
Em sua participação, o diretor-executivo da Federação Nacional da Inspeção Veicular (Fenive), Daniel Bassoli, falou sobre a importância da Inspeção Técnica Veicular (ITV) na redução de sinistros de trânsito. E destacou que o Brasil figura em terceiro lugar no ranking mundial de sinistros fatais envolvendo veículos.
“Infelizmente, o brasileiro tem uma forte cultura na utilização de automóveis, mas não há o costume da manutenção. Ainda temos um número extremamente reduzido de veículos inspecionados anualmente, com apenas 1,5% da frota nacional dentro deste índice”, explicou o diretor executivo.
Bassoli observou também o impacto social e financeiro do alto índice de sinistros, destacando que o Estado tem um custo de cerca de R$ 130 bilhões por ano com sinistros, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “Mais de 15% desses ocorridos trágicos devem-se a falhas mecânicas, gerando um prejuízo irreparável para milhares de famílias, olhando pelo lado social, e um impacto financeiramente alto no Estado”, elucidou.
Segundo o especialista, medidas como a obrigatoriedade do uso de cinto de segurança e a instituição da Lei Seca foram impopulares, mas muito eficazes na redução de sinistros. Bassoli reforçou, no entanto, que “sem a cultura da manutenção preventiva, não há regulamentação ou norma que resolva o problema”.
Vale lembrar que a ITV está prevista no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e foi regulamentada pela Resolução Contran nº 716, de 30/11/2017, mas encontra-se suspensa pela Deliberação Contran nº 170, de 06/04/2018, cujo objetivo é verificar os equipamentos do veículo estabelecidos na série de Normas ABNT 14.040, a fim de garantir que seu funcionamento esteja ocorrendo de maneira correta e segura.
O coordenador da CBCPave, Ranieri Leitão, destacou que tem colocado reiteradamente o assunto em discussão em todas as reuniões para que os membros da câmara continuem acompanhando e trabalhando pela efetiva regulamentação. “A ITV é uma pauta de cunho social que interessa ao setor e à sociedade civil, e vamos insistir no tema. É um legado que a nossa câmara pode construir para o futuro”, enfatizou o coordenador.